A "paz que excede todo entendimento" vem de Deus, mas a iniciativa é sua
Nossa relação com Deus tem muita coisa a ver com a psicologia. Isso porque, na clínica psicológica, o psicoterapeuta geralmente é uma figura de estímulo em relação ao seu cliente, ficando a cargo do paciente as mais importantes iniciativas em busca da resolução dos seus problemas.
Isso acontece porque o psicólogo só pode ajudar, de fato, quando a pessoa necessitada vem até ele disposta não só a lhe pedir ajuda, como a admitir as suas dificuldades, fraquezas e virtudes.
Se trata, portanto, de uma relação de extrema confiança, motivo pelo qual nós, profissionais da área, estamos condicionados a um Código de Ética que nos impõe a obrigação do sigilo.
Muito embora Deus saiba de tudo o que se passa em nossa vida, independentemente das nossas confissões, a sua soberania não lhe impede de estabelecer conosco uma relação tão íntima que seja capaz de exigir iniciativas da nossa parte, exatamente como numa relação cliente-terapeuta.
Em outras palavras: Ele já sabe, mas quer nos ouvir dizer com toda a atenção do universo e a paciência da eternidade!
Imagino que esse tipo de interação de Deus para conosco visa nos fazer entender que nós também temos a responsabilidade de nos achegar a Ele, assim como Ele, unicamente por seu amor e graça, se achegou a nós (João 3:16).
O Senhor não faz da sua onipotência um instrumento de distanciamento entre Criador e criatura. Antes, porém, parece fazer questão de se apresentar como alguém disposto a ouvir, tal como um pai amoroso. É aqui onde entra o sentido da paz que "excede todo o entendimento".
No livro de Filipenses 4, nos versos 6 e 7, a Palavra de Deus fala de uma paz diferente da humana, pois ela existe além do "entendimento". No entanto, a passagem condiciona isso a iniciativas prévias da nossa parte, o que demonstra a importância que o Senhor dá aos que se achegam a Ele. Observe meus grifos:
"Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus."
Podemos extrair três coisas no texto que dizem respeito a nós, que são: apresentar as necessidades a Deus; persistir na súplica pelas necessidades; agradecer por tudo o que Deus é.
Não é o Senhor quem apresenta petições, faz orações ou dá graças a Ele mesmo. Somos nós! É por isso que "a paz de Deus, que excede todo o entendimento", aparece no texto como um resultado direto dessas ações e não o contrário.
Em outras palavras, finalmente, Deus nos responde com uma paz sobrenatural quando apresentamos a Ele às nossas necessidades, insistimos para que elas sejam atendidas e, independentemente da resposta, já nos mostramos gratos pelo simples fato de poder nos achegar a Ele.
Não é questão de mérito nosso, mas de relacionamento entre Criador e criatura. É um Deus que faz questão de nos ouvir e derramar sobre nós a sua maravilhosa graça. Existe “terapia” melhor do que essa?
Marisa Lobo: é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher.
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