A importância do ouvir
Existe uma necessidade desenfreada que, diariamente, nos cerca: ouvir, pacientemente, sem deixar que a rotina ofusque o tempo de qualidade quando estamos com alguém. É a pessoa que liga, a mensagem que chega, as notificações que não param, as demandas que acumulam e o ponteiro do relógio que não descansa, tem nos feito refém de cumprir uma agenda, por vezes, sem a mínima importância.
A Bíblia é enfática ao ensinar que devemos ser prontos para ouvir e mais tardios para falar. Cercados de vozes, somos atropelados por um sentimento de desespero. A Voz que precisa ecoar aos nossos ouvidos parece que já não está tão audível como deveria. A Voz que não pode ser misturada com todas as outras, pois é inconfundível. A Voz da sabedoria que ensina, exorta, impulsiona, encoraja e direciona não encontra espaço para aqueles que têm a indisposição de ouvir. A Voz que sussurra aos ouvidos capaz de acalmar qualquer tempestade em nosso interior.
A Voz que diz quem somos.
Na história de Marta e Maria, relatada em Lucas capitulo 10, vemos o quanto Maria se diferencia com uma simples atitude: parar, assentar-se aos pés do Mestre e ouvir. Por outro lado, Marta preocupa-se com o serviço e as tarefas e reivindica a Jesus para que Maria lhe ajude nas demandas.
Nem sempre estar muito ocupado é sinônimo de produtividade e satisfação. O pensamento errôneo de que quanto mais as pessoas forem ocupadas, mais importante elas se tornam gera nada mais do que fadiga. O grito daqueles que precisam ser ouvidos são abafados pela avassaladora preocupação em sempre querer estar ocupado com alguma coisa.
Neste mesmo cenário, Jesus responde a Marta que apenas uma coisa é necessária. Sim, apenas uma coisa, no singular. Uma atitude correta que produzirá um posicionamento correto. É fundamental em nossos dias discernir o tempo de falar e o tempo de ouvir. O tempo de fazer e o tempo de parar para aprender. Maria escolheu a melhor parte e não lhe será tirada, assim conclui o capítulo dez de Lucas.
Escolher a melhor parte é abster-se de tudo aquilo que distrai a nossa atenção. É simplesmente desfrutar da presença do Mestre. Estar com Ele era a prioridade naquele momento, nada mais era importante, a não ser parar e ouvi-lo.
Quando ouvimos, somos aperfeiçoados. Mudamos a perspectiva daquilo que estava limitado apenas na nossa ótica e conseguimos nos colocar no lugar do outro, semelhante ao que Jesus fez. Ouvir é muito mais nobre do que falar, pois demonstra a disposição de um coração ensinável. Inclusive, até a fé é adquirida através do ouvir. Quando ouvimos a palavra, entramos no processo de metanoia – a transformação da nossa mente. Somos renovados ao ouvir aquilo que edifica. Diferentemente do sábio, não há interesse nenhum em aprender para quem é tolo.
Ao invés de abrir a mente para receber instrução e direção, o insensato abre seus lábios para expor seus pensamentos, pois importa falar. O sábio tem a disposição de ouvir, pois sabe que há sempre mais para aprender com o outro. O sábio não ouve para responder, primeiro, ouve para compreender. Maria não queria replicar aquilo que ouvia dos ensinos de Jesus, antes estava interessada exclusivamente em absorver o conhecimento do Mestre.
“Ouve o conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos teus dias por vir.”
Maria viveu uma vida irrepreensível e um testemunho exemplar. Ela aparece em apenas três relatos citados nas Escrituras. Nós três, ela tem a mesma atitude, pois está assentada aos pés de Jesus. Em um ambiente saturado de muitas Martas ocupadas, prefira ser como Maria. Ela percebeu que estava diante da fonte de águas-vivas e não se contentava apenas em ter uma boa parte, no entanto, ela escolheu a melhor parte e exatamente aquilo que lhe era necessário.
Texto: Matheus Grismaldi é escritor, missionário e assessor de comunicação e imprensa em Angola, África.
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